Éramos perpétuos um no outro.
José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos
fotografia de jorge pimenta
São eles, os telhados, a lavar-lhes retinas ao anoitecer. Na obscuridade, mordem-lhes os dedos com figos e pão, enquanto cospem sílabas impronunciáveis com que alimentam cada escalada e precipício. Detêm-se nos corpos que, mão sobre a mão, devoram o tempo da fotografia, roída, gasta, a acariciar gavetas, por entre alfazema e roupa interior mal dobrada.
É a idade que passa, que lhes verga os passos sobre as vértebras de todos os segredos, guardando uma derradeira certeza: mais tarde será tarde de mais e já nem o nome lhes caberá no beijo.